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Doença do beijo é comum no carnaval

Mononucleose infecciosa é causada por um vírus e pode ser assintomática ou confundida com uma simples dor de garganta

por publicado: 03/01/2023 00h00 última modificação: 03/01/2023 12h05
Exibir carrossel de imagens Foto: Agência Estado A doença atinge, principalmente, indivíduos entre 15 e 25 anos e também é causada por objetos contaminados

A doença atinge, principalmente, indivíduos entre 15 e 25 anos e também é causada por objetos contaminados

por Juliana Cavalcanti*

O verão é um período conhecido pela quantidade de festivais, prévias carnavalescas dentre outros eventos que reúnem especialmente os adolescentes e jovens adultos. Assim, beijar uma grande quantidade de pessoas já se tornou uma prática conhecida neste público: alguns chegam a beijar mais de 10 pessoas em uma única festa.

O comportamento é uma das causas conhecidas para a mononucleose infecciosa, popularmente chamada de “doença do beijo” que atinge muitas pessoas durante os meses de dezembro e fevereiro.

A mononucleose infecciosa é causada pelo vírus Epstein-Barr (um tipo de herpes) e pode ser assintomática ou confundida com outros problemas de saúde, como inflamações de garganta. A doença atinge principalmente indivíduos entre 15 e 25 anos e também é causada por objetos contaminados.

Ela recebe o nome “doença do beijo”, pois o contato direto com a saliva é uma das suas principais formas de transmissão. Seus sintomas incluem dor de garganta, febre, fadiga, inchaço dos gânglios linfáticos (glândulas inchadas), tosse, perda de apetite, inflamação do fígado e hipertrofia do baço.

“Em janeiro, começam as festas de verão, depois vem as prévias carnavalescas e o Carnaval.

Além disso, as redes sociais facilitaram muito as relações sociais e mudou o comportamento, principalmente dos adolescentes e adultos jovens.

As pessoas beijam muito mais e aparecem os resultados de todas essas mudanças”, aponta o infectologista e diretor do Complexo de Doenças Infecto Contagiosas Clementino Fraga, Fernando Chagas.

De acordo com o médico, existe uma família de vírus herpes e o vírus Epstein-Barr faz parte desse grupo, assim como o citomegalovírus, varicela vírus (que provoca a catapora), varicela-zoster, além do herpes tipo I (labial), e o herpes tipo II (genital). “São oito tipos de vírus herpes, entre eles o Epstein-Barr que causa a mononucleose infecciosa.

Portanto, quando você passa a beijar mais, passa a se expor mais até porque na boca existe uma maior concentração de microrganismos, só perdendo para o intestino”, detalhou.

Assim, cerca de um mês após o Carnaval, é comum alguns pacientes relatarem infecções de garganta, pois um dos primeiros sintomas da mononucleose são as infecções principalmente com inchaço na garganta (ínguas no pescoço), sinais parecidos com infecções por bactéria na região.

Muitas vezes a pessoa nem imagina que se trata da doença do beijo. Assim, ela chega no médico que ao ver a garganta inflamada pode de fato pensar que é uma infecção bacteriana e não o Epstein-Barr. Assim, inicia o tratamento com antibiótico.

Patologia ainda é pouco conhecida entre os jovens

Os estudantes Luiz Henrique da Costa e Paulo Roberto tem, respectivamente, 16 e 17 anos e afirmam que nunca ouviram falar na chamada “doença do beijo”. No entanto, apontam que beijar uma grande quantidade de pessoas em eventos como o Carnaval, é algo comum entre pessoas da idade deles. “Eu já tinha ouvido falar sobre o sapinho, a herpes labial e outros problemas que podem afetar a boca, mas doença do beijo não”, comentou Luiz Henrique.

“Quando eu soube que a cantora Anitta estava com essa doença, entendi que era um problema de saúde que a pessoa pegava quando se beija muitas pessoas. Esse caso permitiu que muitos pesquisassem sobre o assunto”, acrescentou Paulo.

O mesmo vale para a estudante Maria Larissa, de 21 anos, que mesmo com a maior divulgação na mídia atualmente, ainda não conhece as causas e sintomas da mononucleose.

No entanto, algumas pessoas já tinham um pouco de conhecimento sobre o assunto e após o caso divulgado nas redes sociais envolvendo a cantora Anitta, buscaram entender melhor o tema. É o caso de Lívia Rebeca, de 20 anos.

Ela agora compreende melhor que a doença do beijo é contagiosa e dependendo do comportamento da pessoa é possível adquirir com facilidade. “Embora já tivesse ouvido falar dessa doença ainda não tinha visto um caso próximo da minha realidade. Hoje sei que se a pessoa tiver em uma festa e se empolgar de alguma forma pode pegar. Estamos em um momento que precisa de mais cuidado porque tem muitas festas vindo por aí”, destacou.

Lívia reconhece que as redes sociais auxiliaram seus amigos e outras pessoas da sua idade a pesquisarem mais sobre a mononucleose. “Cada um faz o que quer, mas acho que é preciso que cada um tenha um pouco de bom senso sobre o que quer para a sua vida. Hoje, muitos dos meus amigos já tem noção disso e se eu puder, ainda posso alertar entre eles”, afirma.

Eliabe Richard, por sua vez, tem 18 anos e lembra que foi através da internet que recentemente pode conhecer tanto sobre a doença do beijo como outros problemas de saúde como a herpes, por exemplo.

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"A pessoa está na festa com a garganta arranhando e dor. No máximo, ela imagina que está com uma inflamação comum", disse o médico Fernando Chagas

Dificuldades no diagnóstico
A doença do beijo apresenta sintomas como dor de garganta, mas não tem sintomas característicos como o herpes tipo I (labial) que dão para notar quando as bolhas estouram, além da dor sentida pelo paciente.

Isso dificulta o seu diagnóstico, pois a mononucleose pode ser confundida com doenças causadas por outros vírus e com sintomas semelhantes.

A transmissão ocorre principalmente no período de incubação que dura de 30 a 45 dias. Quando infectada, a pessoa pode permanecer com o vírus no organismo.

“A pessoa está na festa com a garganta arranhando e dor. No máximo, ela imagina que está com uma inflamação comum, mas na verdade está com o Epstein-Barr. Aí ela beija cinco pessoas na festa e cinco pessoas receberam o vírus.

Dessas cinco, uma pode desenvolver um quadro um pouco mais grave”, relatou o infectologista Fernando chagas.

Tratamento
A doença se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais após a cantora Anitta ter sido diagnosticada. Para combater o problema, ela aderiu a um tratamento conhecido como ozonioterapia, técnica não aprovada no Brasil por falta de embasamentos científicos que apontem a eficácia.

Conforme o infectologista, não existe uma medicação específica para o Epstein-Barr e o tratamento busca combater os sintomas com antitérmicos, analgésicos, anti-inflamatórios e repouso.

Antibióticos não são recomendados já que eles servem especificamente para combater infecções por bactérias.
Exercícios físicos estão proibidos e o contato físico deve ser evitado até que fígado e baço voltem ao normal.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 3 de janeiro de 2023.

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