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Bom humor para uma vida saudável
Atitude positiva em relação à vida pode trazer reflexos até mesmo sobre o sistema imunológico dos idosos

Verônica de Fátima Grigório, 70 anos, diz que é uma pessoa otimista e gosta de levar alegria por onde passa
Alexsandra Tavares*
“Sou uma pessoa otimista, sorridente, e gosto de levar alegria por onde passo”, afirmou a aposentada Verônica de Fátima Grigório, 70 anos, moradora do bairro dos Bancários, em João Pessoa. O jeito espontâneo e alto astral não fazem bem apenas para quem está à volta dela, mas se reflete também na saúde da aposentada. Segundo a médica geriatra Januária Medeiros, uma pessoa sorridente do ponto de vista de saúde significa que é alguém imunologicamente mais forte, cujo organismo vai se portar de uma forma que vai reforçar e ativar mais o sistema imunológico.
“E com certeza, isso vai gerar uma pessoa mais saudável”, frisou. A geriatra frisou que as consequências positivas do sorriso repercutem no momento em que for preciso se recuperar de uma possível doença. Além disso, traz mais disposição para a pessoa buscar atividades saudáveis. “Citando apenas alguns benefícios, a gente sabe que com o sorriso, a gente vai diminuir o estresse, melhorar o humor e isso faz com que a pessoa saia de uma situação de comodidade, e busque melhorias por meio do cuidado com a saúde: a realização do exercício físico e da socialização. Isso tudo fortalece os pilares do envelhecimento saudável”.
Para muita gente pode parecer algo impensável, mas a médica Januária destacou que adotar o sorriso como prática diária, ou seja, ter uma postura otimista diante da vida, pode até aumentar o colesterol bom, o HDL, reduzir a pressão arterial e aumentar a produtividade. Isso porque a pessoa vai buscar meios para estar sempre bem, e encarar de uma forma positiva o próprio processo do envelhecimento. “Esse sorriso vai melhorar a nossa capacidade de reagir diante das dificuldades do envelhecimento, contribuindo para uma longevidade saudável”.
Se depender da disposição e saúde proporcionada pelo alto astral e sorriso, a aposentada Verônica deverá viver por muitos e muitos anos. Ela contou que não gosta de ficar quieta em casa e sempre busca atividades para preencher o dia a dia. Há algum tempo, ela participa do Carnaval fora de época de João Pessoa, o Folia de Rua. Também já integrou um grupo teatral do Sesc/Centro, costuma programar passeios com as amigas e irmãs e adora viajar. “Já viajei para países da Europa, fui ao México, conheci a Disney, fiz cruzeiros e nos finais de semana saio para dançar”, contou.
Mas, nem sempre a vida de Verônica de Fátima foi tão movimentada. Há alguns anos, antes do marido falecer, ela se dedicou aos cuidados do companheiro, que era diabético, perdeu um dos dedos do pé e precisava de atenção. Ela dedicou alguns anos da vida ao bem-estar do marido, da filha e do lar. “Fiquei viúva com pouco mais de 40 anos e hoje minha filha tem mais de 20 anos. Me sinto livre para aproveitar a vida, que passa rápido. Enquanto eu puder, quero aproveitar bem meu tempo livre”.
Prática estimula e recompensa o cérebro
A psicóloga Renata Toscano contou que o sorriso é terapêutico e segundo estudos recentes quem adota essa prática estimula o sistema de recompensa no cérebro. Por conta disso, o sorriso têm influência positiva na qualidade de vida. “Sorrir leva a diminuir os níveis de cortisol, que é o hormônio do stress e da ansiedade, bem como diminui a produção de adrenalina. Ainda aumenta a produção de endorfina, que por sua vez é responsável por nos proporcionar felicidade, bom humor e prazer. Também aumenta o fluxo sanguíneo, auxiliando no aumento da nossa imunidade e da produção de glóbulos brancos”, declarou.
Quando sorrimos, também movimentamos 17 músculos de nosso corpo, trazendo sensação de relaxamento, além de nos ajudar a diminuir as tensões do dia a dia. Especificamente no caso dos idosos, Renata Toscano destacou que o sorriso “rejuvenesce, aumenta a longevidade e melhora a autoestima, que é tão afetada nesse momento da vida”.
Segundo ela, sorrimos desde quando estamos nos desenvolvendo no útero de nossas mães. Mas, a forma como lidaremos com as nossas relações com o mundo, determinará se iremos sorrir mais ou menos. Ela explicou que também devemos levar em consideração os traços de personalidade e temperamento, pois tudo isso influenciará na forma como vamos nos comportar no dia a dia. “Logo, haverá pessoas que trarão consigo uma predisposição ao otimismo e outras, precisarão desenvolvê-lo”.
O que deve ser levado em consideração é que, nem toda pessoa que sorri, é otimista ou está de bem com a vida. “Existe o sorriso falso e forçado, apresentado intencionalmente”. Ao ser indagada se o sorriso pode camuflar uma tristeza, a psicóloga respondeu que isso é possível ocorrer, pois mesmo uma pessoa com transtorno depressivo não será triste o tempo todo. “Já ouvi relatos de pacientes com depressão que foram julgados por pessoas próximas por, simplesmente, sorrirem”.
O importante é saber que aquele que consegue sorrir espontaneamente, de forma verdadeira, só terá benefícios. “Martin Seligman (Psicólogo Americano), comprovou cientificamente os benefícios de se cultivar atitudes positivas no dia a dia, como simplesmente sorrir. É como se essas atitudes influenciassem a vida do ser humano em direção a sua plenitude e equilíbrio físico, mental e emocional”.
Positividade diante da vida pode ser trabalhado
A médica geriatra Januária Medeiros afirmou que já foi comprovado, estatísticamente, que uma pessoa sorridente e feliz vai viver mais e melhor do que as pessimistas. “A boa notícia é que se pode adquirir essa postura positiva ao longo dos anos, fazendo terapia, se cercado de pessoas que têm alto-astral e trabalhar psicologicamente as adversidades que vêm com a idade”.
O ideal, segundo ela, é que se procure a ajuda de um profissional. Iniciando com um psicólogo e, a partir dessa avaliação, procurar um geriatra, ou talvez um psiquiatra para devolver a alegria à terceira idade. Januária explicou que, o próprio envelhecimento pode trazer uma redução desse transmissor de alegria, que é a serotonina. “Então, a gente pode fazer uma suplementação desse neurotransmissor e ajudar as pessoas a encararem a vida de uma forma mais leve”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de janeiro de 2023.