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Carlos Pereira homenageia o DER pelos seus 74 anos
DER, velho de guerra
A data, lembro muito bem. Era 16 de novembro de 1952. No dia anterior, feriado nacional, dia da Proclamação da República, eu tinha completado 14 anos, ou seja estava no limiar da adolescência (naquele tempo essa fase da vida começava mais tarde) e terminando a 3 série ginasial no Liceu Paraibano, de tantas e tão saudosas recordações que, certamente, serão motivo de futuros escritos.
A situação em casa estava difícil, eram muitas bocas para um humilde funcionário público sustentar e, "completou 14 anos, tem que sair atrás de emprego, já é idade pra trabalhar, seja aonde for". Assim foi comigo e com tantos outros.
Pois bem, ao meio-dia do dia 16, subi, pela primeira vez, a escada de entrada do velho prédio do Departamento de Estradas de Rodagem, ali na Maximiano de Figueiredo, n° 311. Tinham-me dito que o porteiro chamava-se "Seu Liberato" e que eu deveria dirigir-me a ele para que fosse encaminhado ao Chefe de Pessoal, a fim de preencher uma ficha e candidatar-me a uma vaga de continuo que era o cargo próprio para estudante pobre que desejava trabalhar. Assim o fiz e recordo que subi o lance de escada com exatos 13 batentes e chegando ao patamar perguntei pelo "Seu Liberato" e um senhor de idade (para mim, naquela época uma pessoa de 40 anos era um senhor de idade), com uma cabeça já meio branca respondeu-me:
- Suba, Liberato sou eu, o que o menino deseja?
Fiquei meio atônito porque já havia subido todos os degraus e meio chateado porque ele me chamou e menino, eu que já estava usando calça comprida desde que entrei no Liceu, aos onze anos e já me dava ao luxo de ler Zé Lins do Rego e Charles Dickens.
Disse-lhe que procurava o Chefe de Pessoal e ele, gentilmente, me levou a uma sala, lá dentro da casa antiga, onde havia na porta uma placa pendurada com os dizeres "DP que depois eu viria a saber significava Divisão de Pessoal e que era chefiada por Wilson Barreto Diniz quem, registro público, devo e agradeço o meu primeiro emprego.
Fiz a ficha, ela foi aprovada pelo Diretor Administrativo, à época o Dr. Enaldo Ferreira Soares e, posteriormente, pelo Diretor Geral do DER, engenheiro Paulo Amaro Maia Cassundé que o Gov. José Américo havia trazido de Pernambuco para organizar o DER então com 6 anos de idade.
Foram tempos inesquecíveis. Os primeiros trabalhos, as primeiras obrigações, o cuidado com o ponto para não atrasar, saber servir a todos com respeito sem perder a dignidade da função humilde de continuo e tantas outras lições que embasaram a minha vida pública durante todos os anos que se seguiram aquele novembro de 1952.
Depois falarei mais do velho DER de guerra, escola de tanta gente boa e decente que serviu (e ainda serve) com honestidade e competência a nossa Paraíba. Hoje, quero terminar lembrando mais uma vez a figura do velho porteiro Liberato, cuja vida durante muito tempo se confundiu com a própria vida do DER.
-Seu Liberato?!
- Suba...
Carlos Pereira
Superintendente do DER/PB